Aos que estão perdendo a esperança
3 de setembro de 2024Aos que perderam a alegria
3 de setembro de 2024Ronaldo Lidório
A natural expectativa de quem passa pelo sofrimento é ver a rápida e final intervenção de Deus. Quando a enfermidade chega à nossa casa, o desemprego torna-se uma realidade ou as crises pessoais se avolumam, nosso clamor é por livramento.
Há sofrimentos públicos, conhecidos e lamentados por todos. E há sofrimentos particulares que destroçam o coração, mas passam despercebidos até pelo amigo chegado. Mais importante do que o calibre do sofrimento é como passamos por ele. O fim do sofrimento pode ser uma alma amargurada, um coração incrédulo e uma mente frustrada. Há, porém, um outro caminho.
O Salmo 63 foi escrito por Davi no deserto de Judá em um dos momentos mais angustiantes de sua vida. Possivelmente, ele escapava de Saul antes de se tornar rei, ou fugia de seu filho Absalão, quando esse se revoltou contra o próprio pai. Em ambas as situações, Davi havia perdido a reputação, a liberdade e importantes laços familiares.
Essa inspiradora canção revela as mais profundas convicções de Davi. No verso 1, ele indica que a sede de Deus era maior do que a sede de água. Nos versos 2 a 5, ele louva a Deus reconhecendo sua força e glória, e agradece a graça, que é melhor que a vida. Faz também um compromisso de o louvar enquanto viver. Nos versos 6 a 8, Davi busca o descanso no Eterno e usa verbos que estão no presente, como “recordo”, “canto” e “medito”. Davi crê e canta o descanso em Deus no dia do sofrimento, não apenas após libertar-se dele. Nos versos 9 a 11, ele declara sua confiança na força e na vitória de Deus sobre seus inimigos.
O sofrimento pode ser um caminho que nos leva à amargura ou ao louvor, à incredulidade ou ao fortalecimento da fé. A qualidade da nossa fé será determinante para a maneira como passamos pelo deserto.
À medida que cremos, descansamos – ou seja, vemos o mundo com as lentes da graça e nos alegramos naquele que controla a vida. Crer que a presença de Deus é melhor que a vida parece ser o exercício mais transformador – da mente, do coração e da visão de mundo – que qualquer pessoa possa experimentar no dia mau.
Hoje, em meio ao seu sofrimento, confesse a sua fé em Deus, reconhecendo quem Ele é e o que Ele faz. Esse é o verdadeiro louvor. Peça fé suficiente para descansar, com alma e mente pacificadas; e louvar, com sincero agradecimento pelo amor e graça.
À semelhança de Davi, às vezes, experimentamos a solidão do deserto, o constrangimento nos relacionamentos e a incerteza sobre o amanhã. A vida nesses momentos torna-se mais lenta, opaca e pesada. E nosso coração, inclinado ao pecado, pode se apegar a uma erva daninha da espiritualidade: o descontentamento.
Davi possuía diversos motivos para abraçar o profundo descontentamento, mas tomou outro caminho: o da confiança, gratidão e louvor. Nenhum descontentamento, por mais enraizado que esteja, resiste à sincera gratidão e louvor a Deus.
Faça da canção de Davi a sua oração:
“Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água. Assim, eu te contemplo no santuário, para ver a tua força e a tua glória. Porque a tua graça é melhor do que a vida; os meus lábios te louvam. Assim, cumpre-me bendizer-te enquanto eu viver; em teu nome, levanto as mãos” (Sl 63:1-4).
Em nossa vivência cristã experimentamos dois momentos bem demarcados e Jesus Cristo estará conosco em ambos. O primeiro é breve e passa como o vento. Já o segundo é eterno. O primeiro é marcado pela esperança e o segundo, pelo esplendor. No primeiro buscamos a Deus e no segundo estamos ao seu lado. No primeiro enfrentamos quebras, lutas, enfermidades e angústias. No segundo não haverá choro, decepções, dor nem morte. No primeiro somos peregrinos, caminhantes e forasteiros, não temos morada certa. No segundo chegamos ao lar.
Enquanto caminhamos pelo dia do sofrimento, que a nossa alma tenha mais sede de Deus do que de água. Que Ele seja o nosso tudo. Então nada nos faltará.